Luiz Eduardo Merlino no 30.º Congresso da UNE, como jornalista e militante   

Beatriz Kushnir, Cães de Guarda – Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988

Luiz Eduardo da Rocha Merlino não estava no congresso proibido da UNE só como jornalista. Ele trilhou um caminho que espelhou uma das opções dos anos que se iriam seguir. Merlino, ou Nicolau, era militante do POC. Nasceu em Santos, São Paulo, em 1948 e morreu aos 23 anos, na OBAN, em 19/7/1971. Exerceu o jornalismo desde os 17 anos, quando, em 1966, fez parte da equipe de jornalistas que fundou o Jornal da Tarde. Esteve na experiência do Amanhã e transferiu-se para a Folha da Tarde também no seu início, permanecendo durante o curto período de tempo em que o jornal pôde ser de oposição. Em abril daquele ano, participou da manifestação diante do Tribunal Militar em São Paulo, quando jornalistas foram presos.

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Em dezembro de 1970, saiu do país em companhia de sua esposa, Angela Mendes de Almeida, para uma viagem de estudos e contatos na França, sobretudo, com a IV Internacional, da qual o POC se aproximaria. Voltou em maio de 1971, com passaporte legal, já que não pesava contra ele nenhuma acusação nos órgãos de repressão.

Na noite do dia 20 de julho de 1971, sua mãe recebeu um telefonema de um delegado do DEOPS, em Santos, comunicando o assassinato do filho. Foi informada de que Merlino se teria jogado embaixo de um carro na BR-116, na altura da cidade de Jacupiranga. Na versão oficial, ele tentava fugir enquanto era levado para Porto Alegre para “entregar companheiros”. Na realidade, Merlino foi retirado de sua casa, em Santos, cinco dias antes, por pessoas que no início se diziam amigos e, minutos depois, instalaram o terror no local. Os policiais buscavam por sua companheira, Angela Mendes de Almeida, que ainda permanecia fora do país. Levado para a OBAN, na rua Tutóia, for torturado por 24 horas e deixado em uma cela solitária. Seu estado de fraqueza agravou as fortes dores nas pernas, fruto do tempo de permanência no “pau-de-arara”.

Sem cuidados médicos, mesmo depois da queixa de companheiros, Merlino sofreu de uma gangrena generalizada, vindo a falecer dia 19.

(…) A trajetória de Merlino expõe um momento posterior ao vivido ainda naqueles anos de 1968. Seu percurso desenha o mais radical, o assassinato, e difere do de outros militantes do jornal, que também caíram a seguir. (pp. 248-249)

Fonte: Beatriz Kushnir, Cães de Guarda –
 Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988. São Paulo, Ed. Boitempo Editorial, 2004.

O conjunto destes textos sobre o 30.º Congresso da UNE está publicado em http://www.ovp-sp.org/congresso_une_1968.htm